Meditar com um Mestre

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“Podes mudar a tua vida. Não necessitas de esperar anos ou mesmo meses por esta mudança. Ela começa no momento em que mergulhas no mar da espiritualidade. Tenta viver a vida da disciplina espiritual por um dia, um único dia. Estás destinado a ser bem sucedido.”

Começar a meditar sozinho
Muitos somos os que começam por meditar sozinhos. Compramos um livro, ouvimos um CD ou assistimos a algumas aulas e vamos para casa fazer as nossas meditações. Por vezes meditar com um grupo de amigos também ajuda. Há um que guia e vamos criando um hábito que nos faz sentir cada vez melhor. Conseguimos aceder a uma parte de nós que aos poucos vai trazendo ao de cima características que gostamos mais em nós e que, porque somos mais fieis a quem realmente somos…nos trazem paz.

Esta é a abordagem à meditação da maior parte das pessoas que conheço. Embora haja também aqueles que estão a contatar pela primeira vez com a meditação. Em qualquer um desses casos, o percurso tem acabado sempre igual…ao fim de um tempo, o hábito vai-se perdendo. Como não há regularidade e disciplina, meditamos só de longe a longe…”quando temos tempo” e acabamos por deixar de meditar.

Também eu percorri esses “caminhos” e preciso confessar que também eu me perdi … ainda hoje me faz confusão: como podemos deixar de fazer algo que nos faz tão felizes e nos preenche cada vazio na sua totalidade??!!… …

“A meditação é uma dádiva divina. Ela simplifica a nossa vida exterior e energiza a nossa vida interior. A meditação traz-nos uma vida natural e espontânea, uma vida
que se torna tão natural e espontânea que não podemos respirar sem estarmos conscientes de nossa própria divindade.”
Sri Chinmoy

Meditar com um Mestre
A verdade é que ao fim de sete anos a seguir um caminho espiritual, há algo que vos posso afirmar com toda a segurança. Quando meditamos percorrendo um mesmo caminho que alguém que alcançou a iluminação, é como se percorrêssemos o caminho “a meias”. Sim, acreditem! Pode parecer estranho, mas ao longo dos anos e cada vez mais, é muito forte a perceção de que “algo” nos guia, de que tudo é muito mais fácil.

É verdade que temos de andar pelo nosso pé, isto é, a verdadeira vontade – aspiração, a inspiração constante, a disciplina, são trabalhos nossos. No entanto, a partir daí, começamos a conseguir cada vez mais ouvir “o nosso centro”/”o nosso Eu interior”/”a nossa ligação ao Universo”/”a nossa alma” e é só agir.

Uma das enormes vantagens de ter um mestre espiritual que alcançou a iluminação é já ter todo o caminho traçado/”desbravado”. O nosso mestre deixou-nos dicas, truques, meios de combater cada dificuldade, cada incógnita. Sri Chinmoy é o meu mestre espiritual e ele deixou-nos 22 mil músicas/mantras para acalmar a mente e com tópicos variados, para serem usadas de acordo com a necessidade do momento. Ouvir as suas músicas no dia a dia, no carro, antes de uma reunião importante, no fim de um dia cansativo, leva-me sempre de volta a “quem sou”, restaura o meu equilíbrio e ajuda-me a raciocinar ponderadamente. Sri Chinmoy pintou 200 mil Jharna-Kala (Fonte de Arte), que nos inspiram e trazem aos espaços que habitamos, uma atmosfera simples, leve, divertida e espiritualmente forte. Muitas destas pinturas têm também mensagens escritas que nos recordam valores a trabalhar a nível interior. Deixou-nos mais de 1600 livros sobre a espiritualidade e cerca de 120 mil poemas que nos orientam no dia a dia. Sri Chinmoy pedia a todos os seus alunos para lerem pelo menos 30 minutos dos seus livros, por dia. Da minha experiência, posso contar-vos que essa leitura ao acordar como que preenche o meu cérebro e limpa o meu corpo. Sei que me sinto inspirada logo pela manhã e tudo flui a partir daí. Quando leio num consultório médico à espera de uma consulta, por vezes dou por mim a sorrir…parece que estou numa bolha, numa ilha…embora consciente de tudo a volta, o que sinto interiormente em nada se assemelha à realidade que me envolve. O meu mestre deixou-nos outro legado, para mim um dos mais fortes, inspiradores e motivadores. O conceito de auto transcendência.

“A plenitude da vida
Reside em sonhar e manifestar
Os sonhos impossíveis.”
Sri Chinmoy

A mudança

Sri Chinmoy disse várias vezes, em resposta a perguntas que lhe faziam, que tudo o que fazia era para inspirar a humanidade, para nos mostrar que somos sempre capazes de muito mais. Preciso confessar que esta noção fez sempre todo o sentido para mim. Sempre me fez muita confusão, ver que as pessoas que fui conhecendo, perante uma dificuldade ou momento difícil, simplesmente se acomodam. A rendição a algo que nos faz infelizes, é meio caminho andado para a frustração, para a doença psiquiátrica e física. O que penso é…se temos que cá vir tantas vezes até alcançar a iluminação, se temos “a sorte” de cá estar, num mundo tão abundante de bens físicos, naturais, de sentimentos tão maravilhosos, de momentos tão inesquecíveis…como podemos deixar passar os meses, os anos, toda uma vida, simplesmente aceitando que pessoas ou situações nos façam infelizes???… Como desculpa, ouvi (e ainda ouço), as pessoas dizerem que “não é fácil mudar”…reparem…é uma frase feita. Metade da população a usa para se referir à sua acomodação, à sua inércia perante as fatalidades. É a própria noção de “mudança” que nos assusta.

Como pode a sua vida
Ficar satisfeita
Com pequenas realidades
Se o seu coração
Tem grandes sonhos?”
– Sri Chinmoy

Mudar implica não saber o que vem a seguir, mudar implica confiar, implica pôr o pé num novo caminho, sem saber para onde ele vai.

…”Assim, eu ensino a alma do indivíduo como ela pode convencer o coração aspirante e a mente buscadora a orar e meditar.
Eu faço isso principalmente com as almas.
Sinto que quando a alma age numa pessoa, é a forma mais eficaz.”…
Sri Chinmoy

Consultar a nossa essência

Pela minha experiência, preciso dizer-vos que nestes momentos só nos resta uma opção … fechar os olhos e consultar a célula mais profunda do nosso interior, consultar a nossa essência, a nossa alma. É aí que vamos buscar as certezas, é aí que encontramos as nossas respostas, sem influência dos nossos parceiros ou da sociedade que nos rodeia. Seguindo “este caminho”, o caminho de nos ouvirmos, vamos muitas vezes deparar-nos com dificuldades sociais e familiares, mas sentiremos cada vez mais uma orientação forte dentro de nós, uma certeza crescente do que realmente importa, uma paz interior que muda a nossa vida exterior e relativiza os obstáculos do dia a dia.

“Apenas pelo nosso pensamento positivo,
Por trazer as qualidades positivas
Dos outros ao de cima,
Este mundo será capaz
De fazer progresso”.
– Sri Chinmoy

Para quê dificultar a vida a esta ou aquela pessoa, porque não facilitá-la, porque não perdoá-la, porque não ajudá-la? O que ganho quando pago na mesma moeda? Simplesmente perco porque desci do meu “nível de paz”. Sri Chinmoy mostra-nos todos os dias, pela nossa ligação individual a Ele, por tudo o que nos deixou, que a mudança é fundamental para sermos verdadeira e prolongadamente felizes. É porque aceito o que quer que venha e porque acredito que sempre vem melhor e melhor, que vivo em paz. Pouco interessa se correspondo às espectativas da sociedade, pouco interessa se preencho o orgulho mental dos que me rodeiam. A única coisa que interessa é que VIVO EM PAZ.

“O que dá à vida o seu valor
Se não o seu choro constante
Pela auto transcendência?”
– Sri Chinmoy

A auto transcendência de modos quase infinitos

Sri Chinmoy, demonstrou-nos que podemos praticar a auto transcendência de modos quase infinitos. Para além da quantidade de livros, pintura e músicas que nos deixou, Sri Chinmoy correu 22 maratonas num período de 10 anos…na década dos seus 40 anos. Quando a sua condição física o impediu de correr, do nada começou a levantar pesos, levantando objetos pouco vulgares (elefantes, pianos com um pianista a tocar, um grupo coral enquanto cantava) e figuras públicas que honrava deste modo, pelo bem que faziam pela humanidade, tendo levantado o Presidente Nelson Mandela, a Madre Teresa de Calcutá, o arcebispo Desmond Tutu, Muhammad Ali, entre muitos outros.

Programa “Lifting up the World with a Oneness-Heart

“ Eu estou a tentar com as minhas capacidades encorajar e inspirar as pessoas que nas várias áreas da vida inspiraram os outros no desporto, literatura,
ciência ou política, ou com as suas vidas pessoais. Eu levanto-os para mostrar a minha apreciação pelos seus feitos.”
– Sri Chinmoy

 A simplicidade deste caminho espiritual, da sua filosofia, das pessoas que o seguem, foi outro aspeto que me prendeu desde o início. A maior parte de nós somos pessoas com formação superior, de raças diferentes, de países e culturas diferentes, com meios económicos diferentes e, adivinhem…ninguém sabe, nem ninguém quer saber. Só quando um de nós tem uma necessidade médica urgente, é que percebemos quem é o médico ou enfermeiro… Cada um caminha com o que tem e com o que é. Cada um partilha o que quer e o que pode. Sempre numa constante de fazer e Ser melhor, tudo está bem e é suficiente e todos nos sentimos cada vez mais um só. O que nos une, é o objetivo de servir a humanidade, partilhar esta dádiva que nos é dada todos os dias. O que nos une, é uma necessidade incessante de auto transcendência nas nossas vidas e usa-la para o bem da humanidade.

“ Uma pessoa espiritual deve ser uma pessoa normal, uma pessoa sadia. De modo a alcançar Deus, uma pessoa espiritual, deve ser divinamente prática nas suas atividades do dia a dia. Ao ser divinamente prático, partilhamos a nossa riqueza interior. Sentimos a motivação divina por trás de cada ação e partilhamos os resultados com os outros.
A espiritualidade não nega a vida exterior. A vida exterior deve ser a manifestação da vida divina dentro de nós.”
– Sri Chinmoy

(retirado do livro “As Asas da Alegria”)