Um verdadeiro Mestre espiritual é alguém que alcançou Deus-realização. Todos nós somos um com Deus, mas o verdadeiro Mestre espiritual estabeleceu a sua unicidade consciente com Deus. A qualquer momento, ele pode entrar numa consciência mais elevada e trazer mensagens de Deus para aqueles discípulos que têm fé nele. O Mestre, se genuíno, representa Deus na Terra para aqueles buscadores que têm verdadeira aspiração e fé no Guru. Ele foi autorizado ou encarregado por Deus a ajudá-los. O verdadeiro Professor, o verdadeiro Guru, é o próprio Deus. Mas na Terra, Ele normalmente agirá em e através de um Mestre espiritual. O Mestre energiza o buscador com inspiração e, com o tempo, através da infinita Graça do Supremo, oferece ao buscador a iluminação.
Engana-se quando toma o Mestre como apenas a pessoa, como o corpo humano. Deve sentir que o verdadeiro Mestre está dentro do físico. Porque é que os meus discípulos vêm até mim? É porque é que o seu verdadeiro Mestre, o Supremo, está dentro de mim. O Supremo também está dentro deles, mas neles, Ele está dormente, enquanto que em mim Ele está completamente desperto. O Mestre e o discípulo são como dois amigos que têm a mesma capacidade, mas um está adormecido e precisa de ajuda para acordar antes de poder manifestar a sua capacidade. O Guru é alguém que chega, toca os pés do seu irmão e, acariciando a sua cabeça, diz “Por favor, levante-se. Chegou a hora de trabalharmos para o nosso Pai.”
Quando um Mestre aceita alguém como discípulo, ele aceita aquela pessoa como parte de si. Se o discípulo é imperfeito, o Mestre também está imperfeito. Na perfeição do discípulo está a perfeição do Mestre. Eu sempre digo que não tenho individualidade nem personalidade. São os feitos dos meus discípulos que me levarão ao Céu ou ao inferno. Eu tenho a capacidade de permanecer o tempo todo no Paraíso, mas eles podem facilmente arrastar-me para o inferno a cada momento porque eu os aceitei como parte de mim.
Um verdadeiro Mestre espiritual procura trazer à tona a divindade interior do discípulo do fundo do seu coração. Ele bate à porta-coração do discípulo e desperta a criança divina nele, que nós chamamos de alma. E ele diz à alma: “Tomarás conta dos outros membros da família – o físico, a mente e o vital – e cuidarás deles. Eles estão constantemente a cometer erros. Agora, dá-lhes uma nova vida, um novo significado, um novo propósito.”
É trabalho do Mestre espiritual fazer os seus discípulos sentirem que, sem amor, sem verdade e luz, a vida é sem sentido e infrutífera. A coisa mais importante que um Mestre espiritual faz pelas suas crianças espirituais é trazer-lhes a perceção consciente de algo vasto e infinito dentro delas mesmas, o qual não é nada mais nada menos que o próprio Deus. (…)
Se alguém já possui um certo desenvolvimento, ou seja, se já praticava a vida espiritual em encarnações anteriores e está em condições de ouvir o que diz o seu ser interior, não lhe é absolutamente necessário ter um Mestre espiritual. Nesse caso, ele tem apenas de procurar no seu interior profundo e praticar a vida espiritual com toda a sinceridade. Como não deseja a ajuda de um Mestre, ele deverá depender completamente de si e da infindável Graça de Deus. Todavia, precisamos lembrar-nos que o caminho espiritual é muito árduo; apenas em raras circunstâncias alguém realizou Deus sem a ajuda de um Mestre espiritual. Os próprios Mestres espirituais, na sua maioria, receberam ajuda de alguém por um dia, um mês, um ano ou dez anos antes de realizarem Deus.
Assim como precisamos de professores para o conhecimento exterior – para iluminar o nosso ser exterior – também precisamos de um Mestre espiritual para nos ajudar e guiar na vida interior, especialmente no início. Senão, o nosso progresso será muito lento e incerto, e poderemos nos sentir muito confusos. Teremos experiências elevadas, edificadoras, mas não lhes daremos a importância devida. A dúvida poderá eclipsar a nossa mente, e diremos: “Sou apenas uma pessoa comum, então como posso ter esse tipo de experiência? Talvez eu esteja a iludir-me.” Ou quem sabe contaremos aos nossos amigos e eles dirão: “É só uma alucinação mental. Esqueça essa história de vida espiritual.” Mas, se houver alguém que saiba o que a Realidade é, ele dirá: “Não haja como um tolo. As experiências que tem tido são absolutamente reais.” O Mestre encorajará e informará o buscador, e também lhe dará as devidas explicações sobre as suas experiências. Igualmente, se o buscador tem feito algo errado na sua meditação, o Mestre está em posição de corrigi-lo.
Porque é que se vai à universidade, se se pode estudar em casa? É porque se sente que se receberá instrução especial de quem conhece bem o assunto. Sabe bem que existem algumas – ainda que muito, muito poucas – pessoas de verdadeiro conhecimento que não frequentaram nenhuma universidade. Sim, existem as exceções. Qualquer regra admite exceções. Deus está em todos, e se um buscador sente que não necessita de ajuda humana, será muito bem-vindo para testar a sua capacidade sozinho. Mas, se é sábio e deseja correr para a sua Meta, ao invés de tropeçar ou simplesmente caminhar, certamente a ajuda de um Guru será considerável. (…)
“O Papel do Guru” por Sri Chinmoy, excerto do livro O Mestre e o Discípulo